A implantação do Monumento Natural do Cânion do São Francisco traz a discussão o beco sem saída em que essa região está submetida: produzir ou preservar. De um lado o Ministério do Meio Ambiente que quer criar uma Unidade de Conservação onde só seria permitida a pesca artesanal. Do outro lado, pequenos produtores e piscicultores que tem no rio a sua fonte de renda através da criação em tanques rede de tilápias e o trade de turismo que tem o Cânion como um dos principais atrativos da região. A situação é muito séria, e a sociedade tem mais que se organizar para apresentar um novo modelo, baseado em cenários exploratórios, feito de baixo para cima, que traduza os reais anseios e aspirações dos povos que habitam essa região. Como toda a sociedade que se preza, não é difícil imaginar que o povo deseja, ardentemente, uma melhor qualidade de vida, que seja resultante de oportunidades de trabalho com todas as garantias de salários justos, e também, os direitos de ter para si e sua família e seus descendentes o meio ambiente preservado, além de uma oferta de um sistema educacional mais bem capacitado, no qual as primeiras lições dadas às crianças serão sobre ecologia, bem como de um sistema de saúde mais bem estruturado e organizado. É isto que representa, para o povo pobre, o desenvolvimento sustentável. Um desenvolvimento que valorize o antropocentrismo, o homem como o centro para onde todas as coisas criadas por Deus devem fluir. Embora se saiba que alguns ambientalistas têm razão em defender a preservação para produzir, e que os economistas, a maioria pertencente à corrente monetarista, têm razão em achar que o desenvolvimento sustentável significa, necessariamente, o equacionamento de inúmeras variáveis, com definição de prioridades e recursos, a verdade é que decorridas várias décadas de exploração econômica do rio São Francisco, o povo da região continua, em sua grande maioria, à margem dessa história. Vê-se, portanto, que o modelo de exploração do rio com a construção de Usinas hidroelétricas, que foi o começo de tudo, passando nas últimas décadas pela agricultura irrigada, turismo e pela piscicultura não tem gerado a melhoria das condições de vida do nosso povo. Esse modelo de desenvolvimento, basicamente exportador de divisas repercute, negativamente, trazendo graves danos à natureza e ao homem barranqueiro do São Francisco.E o que vamos fazer? Tentar continuar com esse mesmo modelo exportador? Passar a priorizar o mercado interno agregando valor aos nossos produtos e distribuindo melhor a riqueza? Ou partir para um misto interno-externo, mas com forte decisão de exigir recursos dos estados e da união com a determinação de investir, maciçamente em infraestrutura e pesquisa, direcionados, em sua maior parte, para a criação de uma nova tecnologia de manejo do rio, criando assim, sustentabilidade na exploração do Rio. Isto seria, a meu ver, o ideal.Enquanto não se faz isso, é urgente a necessidade de recuperar os estragos causados nos últimos anos pela exploração irracional do rio. Ações como reflorestamento das matas ciliares, desassoreamento da calha do rio, repovoamento do rio com espécies nativas, dentre outras ações para garantir o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos e terrestres. Há também que se repensar os sistemas agrícolas, tanto da pequena com da grande agricultura, mudando de um modelo baseado no uso excessivo de elementos químicos nas plantas, tais como pesticidas, fungicidas, pulverizantes artificiais e todo tipo de agrotóxicos para um modelo agroecológico menos impactante na natureza e à saúde do ser humano.Precisamos de uma convivência harmoniosa e associada da atividade econômica com a natureza, onde não só o rio teria um tratamento melhor e respeitoso por parte do homem, como também, o próprio homem estaria dando provas de respeito por si mesmo e por todos os habitantes da região e do mundo inteiro. O ser humano não está sozinho nesse percurso aqui no planeta Terra; estamos sim, acompanhados de uma intrincada e interrelacionada rede de vida que deve convergir para um perfeito equilíbrio de todos os elementos que compõem os ecossistemas terrestres e hídricos. Qualquer ação humana não bem delineada e planejada pode resultar em catástrofes irreparáveis para toda a humanidade.
Por Anttonio Almeida Júnior
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