quinta-feira, 23 de abril de 2009

TAMBÉM QUERO UMA

Henrique Serapião
hserapiao@gmail.com

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.” Ruy Barbosa

O noticiário dos últimos dias foi tomado pela polêmica a respeito do uso das passagens aéreas pelos familiares dos nobres deputados e senadores, mais um escândalo naquele circo de horrores que estamos acostumados a ver no nosso Congresso Nacional. Até a linda e rica Adriane Galisteu foi envolvida na história.
O que chama a atenção, em mais uma farra com o nosso dinheiro, é a cara de pau dos senhores congressistas, em defender tal abuso. Sim, abuso na medida que levar namorada, mulher e filhas para passear com o meu, o seu, o nosso suado dinheiro, se constitui sim no mínimo em abuso, para não dizer uma excrescência que só acontece no Brasil.
O nobres congressistas (e aí não se enquadram somente os do baixo clero, mas também cabeças coroadas do Congresso) nos brindam com as mais ridículas desculpas, dizendo que o regimento permite, que não há nenhum impedimento legal e por aí vamos. No entanto, suas excelências se esquecem de que as passagens são para uso no exercício do mandato, para deslocamento dos nobres deputados entre os estados de origem e a capital federal. Somente essa é a destinação.
Mas como nosso Brasil é o país da gambiarra, dos arremedos, dá-se logo um JEITINHO BRASILEIRO de deturpar tal cota de passagens, para beneficio próprio e de seus familiares, uma vergonha. Realmente, não tem preço ver deputados (José Aníbal, Mario Negromonte etc.) e ministros (Geddel e Hélio Costa) dando a desculpa de que o dinheiro pertence a eles, e eles fazem o que quiserem com ele. O nobre senador Jefferson Péres deve estar se revirando no túmulo com a notícia de que sua esposa foi ao Senado e retirou a pequena bagatela de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais) que, segundo ela e o senador Garibaldi Alves, eram-lhe devidos.
Não vou me alongar muito no assunto, porque acredito que já estamos de saco cheio dessa nojeira que se tornou o Congresso Nacional, a conivência dos poderes constituídos em deixar perpetuar tal situação, ressaltando apenas: “Que ao particular é permitido fazer aquilo que a Lei não proíbe, mas ao agente público só é permitido fazer aquilo que a Lei autoriza“.
Ao que me consta não há nenhuma Lei autorizando a farra das passagens que estamos assistindo. A cada dia, a frase dita no início do século XX, se torna mais atual, parecendo uma profecia do mestre Ruy Barbosa.

Henrique Serapião é advogado.

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